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Espetáculo e degustação com bolinha vermelha na Pensão Amor

Alice no País dos Bordéis
Par Inês ALMEIDA Il y a 7 ans
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Atividades Lisboa

Alice no País dos Bordéis é a peça de Roger Mor que está em cena na Pensão Amor

 

“Sigam-me, botõezinhos!”

 

Está dado o mote para o início da peça Alice no País dos Bordéis, escrita por Roger Mor. A viagem aos anos 60 começa à entrada da Pensão Amor, na compra do bilhete, quando é dado ao espetador uma réplica do Livrete Sanitário, que as prostitutas, na altura chamadas de matriculadas, tinham de ir carimbar todas as semanas ao Hospital do Desterro para poderem exercer funções.

 

À hora marcada entra a espalhafatosa Alice na sala e leva os seus “botõezinhos”, nome com que carinhosamente apelidava as meretrizes, para um andar secreto da Pensão Amor, onde se desenrola a peça. Os espetadores recuam ao dia 19 de setembro de 1962, quando Salazar proíbe a prostituição, ordenando o fecho dos bordéis em Portugal e acabando com o estatuto das matriculadas.

 

É com Alice que percorremos as várias salas do andar secreto da Pensão Amor, que vai contando às futuras meretrizes a sua história de vida, desde a infância até à data em que começou a trabalhar no Cais do Sodré. Pelo caminho vai mostrando vários artefatos, como frascos de perfume, roupas e fotos antigas, alguns dos quais faziam parte da Pensão Amor quando foi comprada pela Mainside, a empresa proprietária.

 

 

Alice no País dos Bordéis

 

 

Durante 25 minutos, a duração da peça, o espetador emerge no universo de Alice, conhecida como a louca, interpretada alternadamente por Sofia Portugal e Francisco Beatriz. A meretriz fala de outras prostitutas, como a Rita engatadeira, a alcoviteira que vivia à conta dos “botõezinhos”, a Guadalupe, uma beata que tinha um altar cheio de louça das Caldas, ou o Jerónimo, o homem com quem Alice sonhava casar, que estava preso há quatro meses.

 

Esta peça, além de ser entretenimento puro, ainda tem uma mais-valia. Esta tem uma base verídica, tendo surgido quase acidentalmente ao seu autor, Roger Mor. “A peça surge no decorrer de uma pesquisa história, que eu comecei a fazer para a Mainside, para criar um projeto, chamado Museu Erótico de Lisboa, na Pensão Amor. Acabámos por encontrar uma série de história associada ao espaço, sendo que muitos dos aspetos mencionados na peça são inspirados em factos verídicos, apesar de muitos dos nomes terem sido alterados e de uma grande parte da história ser ficcionada”, explica o autor.

 

Depois de fazer uma extensa pesquisa bibliográfica e de recolher vários testemunhos pessoais, tanto de prostitutas que trabalharam no Cais do Sodré, como de pessoas que lá viveram, Roger começou a “coser” a peça. Para o autor, ex-jornalista, a peça tem o fenómeno interessante de “dar a entender que além do lado erótico e sensual que normalmente se associa às prostitutas, estas também faziam o papel de embaixatrizes de Lisboa. Eram as primeiras a conhecer as novidades, quem chegava à cidade. Tanto que houve uma quantidade delas que acabou por casar com marinheiros e foi para o Japão, por exemplo.”

 

 

Alice no País dos Bordéis

 

 

“Fecha as pernas e abre a boca.”

 

Quem desejar prolongar a experiência e, acredite, depois da descrição que se segue vai desejar, pode seguir para outra sala secreta com a Alice, onde o chef Guilherme Spalk apresenta um menu de degustação dividido em oito momentos, empratado à frente dos espetadores. Esta ementa tem o nome sugestivo de Fecha as pernas e abre a boca, evocando todo o universo da peça do princípio ao fim.

 

A refeição começa com o couvert em forma de kit de maquilhagem, apelidado de Preliminares. O batom é um paté de mexilhão, o blush esconde manteigas de açafrão e pinhão e o boião de creme vem recheado de queijo de azeitão. Toda a refeição é bem regada, começando com um copo (ou mais, se quiser) de champanhe. O chef, tal como toda a equipa, deixa os “botõezinhos” à vontade, mantendo o tom brincalhão da Alice e prosseguindo com a encenação.

 

 

Alice no País dos Bordéis

O original couvert em forma de kit de maquilhagem

 

 

Depois do couvert, vem um prato com três entradas, pequenas de tamanho mas grandes em sabor. O Despertar dos Sentidos inclui sabores tão interessantes como foi gras, ceviche e churro. Segue-se o Fogo de Paixão, com atum, ruibarbo e umeboshi (e supostamente sangue de touro, mas essa história fica guardada para quem for assistir à peça). O Beijo Francês é um invulgar prato de peixe que leva linguado, como não podia deixar de ser, ostra, espinafres e chá verde. Segue-se a Boca Naquilo, uma deliciosa sopa com cebola, miso, cogumelos e gema de ovo.

 

A acompanhar os pratos bebe-se vinho e conversa-se. Mas o repasto está longe de acabar. Ainda falta o Desejo Carnal, um delicioso prato com faisão, amêndoa, bolbo de aipo e milho doce. Depois segue-se a maior surpresa da refeição, que o vai levar a pôr uma venda e a comer na mão do seu parceiro. Mais não vamos revelar, sob perigo de estragar a experiência. Podemos adiantar que a refeição termina com um Orgasmo, feito com chocolate, doce de leite e limão.

 

 

Alice no País dos Bordéis

Desejo Carnal

 

 

Já se decidiu a embarcar com Alice nesta viagem? Despache-se, porque candidatos a “botõezinhos” não faltam. A peça e a refeição pop-up estavam para terminar a 10 de Agosto, mas o elevado número de reservas fez com que o prazo se estendesse até 28 de outubro. Garantimos-lhe que vale muito a pena conhecer os meandros da história de Alice e da Pensão Amor, acabando com uma incursão pela fabulosa ementa desenhada por Guilherme Spalk.

 

 

Endereço: R. do Alecrim 19, 1200-014 Lisboa

Horário:

Sessões de terça a sábado entre as 18h30 e as 21h30 (em português e em inglês)

Sessões especiais com jantar (2 horas duração): 20h (inglês); 21h (português)

Preços: espetáculo 6€; espetáculo com jantar 69€

Compre os bilhetes aqui.

 

 

Photo Credit: Fernando de Pina Mendes