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Sonia Falcone expõe no Palácio Nacional da Ajuda

Sonia Falcone na Ajuda
Par JoÁ£o GALVÁƑO Il y a 7 ans

Depois de Miró, o Palácio da Ajuda fala novamente castelhano: Dios, color y universalidad são as linhas mestras da arte de Sonia Falcone

 

Foi Miss Bolívia em 1988, mas esse passado nada tem a ver com ela agora: na movida que tem caracterizado a ação do atual diretor da Palácio Nacional da Ajuda, José Alberto Ribeiro, a exposição “Campos de Vida” de Sonia Falcone traz cor e modernidade aos corredores neoclássicos de um monumento que assim se torna cada vez mais integrado na contemporaneidade.

 

Enquanto montava as 45 obras repartidas por 27 salas da Ajuda, Sonia descobriu Lisboa: “É uma cidade que me encanta, tenho que comprar casa aqui!”, conta-nos entusiasmada, “encantam-me também e tanto as pessoas daqui, como os elementos portugueses da minha equipa que me ajudaram a montar a exposição, sempre tão disponíveis e tão prontas!”

E como se passa de Miss Bolívia a artista internacional, já com duas presenças na Bienal de Veneza em representação do seu país? Por um caminho duro e cheio de escolhos: “Coisas da vida fizeram-me cair numa depressão que nem da cama me deixava sair. Um amigo disse-me “pinta, vai fazer-te bem”, mas eu não era artista. Depois disseram-me que artista não se faz, artista nasce-se, e eu, pronto, vamos ver se é isto que Deus quer para mim”.

 

As primeiras obras de Sonia refletem este estado de espírito “um ou dois passos para cima, três para trás, para pior do que estava antes, era assim que eu estava, a preto e branco, sem cor”.

 

E um dia, “estava numa praia do México, e comecei a rezar a rezar, a pedir a Deus que me mostrasse um plano para a minha vida, um propósito. Tinha começado a pintar há pouco tempo, fui comprar tintas e comecei a trabalhar. Numa dessas noites estava a ler Juan de la Cruz, o poeta monge carmelita do século XVI, o poema ‘La Noche Oscura de la Alma’, e de repente senti-me renascer, como uma fénix ressuscitada das cinzas, e disse a Deus que lhe entregava a minha vida e que Ele fizesse comigo o que bem entendesse, eu estava pronta!”

 

Ler este texto assim, apenas escrito, não tem de todo o mesmo peso e encantamento da palavra, rápida e acesa, com que Sonia, especialmente nesta parte mais mística e pessoal da entrevista, nos cativou. É verdade que é uma característica latina, especialmente da coluna castelhana, mas as inflexões na voz de Sonia, o dramatismo do discurso de mão ao peito, alternados com braços velozes que falam tanto ou mais que a boca, fazem-nos ter pena de não ter levado um camera man: porque uma coisa é ler “eu estava pronta”, outra bem diferente é ouvir “yo estaba lista!”, em voz baixa e rouca, de olhos húmidos presos ao teto pintado da escadaria do Palácio Nacional da Ajuda.

Expor aqui, no Palácio Nacional da Ajuda é um sonho tornado realidade para Sonia Falcone, “foi o melhor que me aconteceu na vida! Imagina, aqui viveu D. Maria Pia, uma rainha-artista, pioneira em tantas artes, fotógrafa, pintora, desenhadora, uma mulher do mundo, uma influenciadora! E a mim, uma menina da Bolívia, foi dada a permissão de entrar no espaço que foi dela, com a minha arte. E nem de propósito, tenho exposta junto a um seu retrato, em que a Rainha não ostenta joia alguma, nada, uma obra chamada “Gotas de Sangre”, com uma grande bola de vidro suspensa e cheia de líquido vermelho, sangue, e outra mais pequenina, completamente vazia. Esta mulher, a quem o país tudo deu, viu-se no final sem nada, quando o mesmo país tudo lhe tirou. É a peça em que as nossas histórias se tocam”.

 

No final perguntámos a Sonia Falcone o que pode fazer a Arte pelo mundo partido, frágil e dividido que temos agora: “A arte, seja a minha seja a de quem for, é sempre um ponto de vista espiritual. Disse Malraux que “a arte do século XXI ou é espiritual ou não é arte”. Eu penso da mesma forma, tenho uma peça na exposição, um holograma de um coração animado, a bater, ritmado, com o som da batida a encher toda a sala, tumtum, tumtum tumtum. Com ele gostaria de levar as pessoas a pensar “quem sou eu? De onde venho e para onde vou? Qual o meu propósito?” Qualquer um de nós deve a si mesmo evoluir no carácter e na relação com o outro.”

 

 

Exposição “Campos de Vida”, por Sonia Falcone

Até 31 de dezembro

Palácio Nacional da Ajuda, Largo da Ajuda

1349-021 Lisboa

Entrada incluída no preço de acesso ao Palácio