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Pieter Hugo no Museu Coleção Berardo

Expo Pieter Hugo
Por JoÁ£o GALVÁƑO hÁ¡ 7 anos

As fotografias de Pieter Hugo retratam um mundo “Between the Devil and the Deep Blue Sea – Entre a Espada e a Palavra”, em mais uma mostra temporária no Museu Coleção Berardo.

 

É uma exposição singular, que nos obriga a recordar que o mundo é bem mais vasto que o nosso quintal, e nem todas as vidas são prazenteiras. 

 

A exposição mundo “Between the Devil and the Deep Blue Sea – Entre a Espada e a Palavra” pergunta que nos divide e o que é que nos une? Como é que as pessoas vivem sob a sombra da repressão cultural e do domínio político? 

À esquerda, da série "Conversas em torno de uma Sopa de Massa", Zeng Mai Hui Zi, em Pequim, 2015-2016, prova cromogénea, e à direita, da série "Flores Silvestres da Califórnia", Sem Título, São Francisco, 2014, prova cromogénea. Na foto de abertura trabalho da série "Ruanda", de 2014, mostrando o vestuário retirado das vítimas do genocídio perpetrado na Escola Técnica do Murambi, onde aproximadamente 50.000 pessoas foram assassinadas pelas milícias hutus nas salas de aula. Prova cromogénea. 

 

O fotógrafo sul-africano Pieter Hugo tenta as respostas pela objetiva da sua máquina e traz-nos quinze séries fotográficas produzidas entre 2003 e 2016, depois de as ter exposto no Kunstmuseum Wolfsburg e no Museum für Kunst und Kulturgeschichte, em Dortmund.

À esquerda, da série "Laços de Família", Na Casa de Sipho Ntsibande, Soweto, 2013, prova cromogénea, ex. 1/9 + 2 P.A, e à direita, da série "Juízes do Botsuana, O Meritíssimo Juíz Moatlhodi Marumo, 2005, prova cromogénea, por processo LightJet Lambda.

 

São retratos, naturezas-mortas e paisagens em que Hugo mostra uma intensa sensibilidade na observação das dissonâncias sociais. Com a máquina fotográfica percorre todas as classes sociais de uma forma perspicaz, não apenas no seu país natal, a África do Sul, mas também noutras paragens, como o Ruanda, a Nigéria, o Gana, os estados Unidos e a China, países em que aquelas dissonâncias se exibem mais evidentes.

À esquerda, da série "Laços de Família", Thoba Calvim e Tshepo Cameron Sithole-Modisane, Pretória, 2013, prova cromogénea. À direita, da série "Conversas em torno de uma Sopa de Massa", Deersan, Pequim, 2015-2016, prova cromogénea.

 

O artista mostra especial interesse pelas subculturas sociais, pelo fosso idealizado entre o imaginado e o real. As suas fotos apresentam-nos sem-abrigo, albinos, doentes com sida, domadores de hienas, coletores de  ferro-velho em cenários pós-apocalípticos, atores de Nollywood em traje e pose impressionante, bem como a sua família e os seus amigos.

À esquerda, da série "Os Domadores de Hienas e Outros", Abdullahi Mohammed com Mainasara Ogere-Remo, Nigéria, 2007, prova cromogénea. À direita, Retrato #1. Ruanda, 2014, prova cromogénea.

 

Nas fotos não há qualquer hierarquia, todos são tratados com igual respeito. Sendo mais artista do que antropólogo ou repórter, Hugo capta o “momento de vulnerabilidade voluntária”, com uma linguagem visual concisa e pronunciadamente imparcial, embora simultaneamente empática, criando deste modo retratos de uma poderosa fraqueza.

À esquerda, Steven Mohapi, Joanesburgo, 2003, prova de impressão digital a jato de tinta (pigmento) sobre papel de trapo de algodão. À direita, da série "Nollywood", Obechukwo Nwoye, Enugu, Nigéria, 2008.

 

Em muitos casos esta humanidade contrasta fortemente com as provações da realidade social em que os retratados estão envolvidos. É neste sentido que as naturezas-mortas e as paisagens de Pieter Hugo se apresentam ocasionalmente como comentários sociais ou metáforas, complementando os seus retratos socioculturais.

À esquerda, da série "Os Domadores de Hienas e Outros", Emeka, motociclista e Abdullahi Ahmadu Asaba, Nigéria, 2007, prova cromgénea. À direita, da série "Erro Permanente", David Akore. Mercado de Agbogbloshie, Acra, Gana, 2010, prova cromogénea.

 

Cada série fotográfica é acompanhada por uma memória descritiva registada na primeira pessoa, sobre os motivos e os cenários abrangentes que servem de pedra de toque ao trabalho da série em causa. Para lhe aguçar ainda mais o interesse por esta mostra de Pieter Hugo, escolhemos alguns dos testemunhos íntimos do artista a propósito de cada série.

Da série "Laços de Família", autorretrato do artista com o filho, no Parque de Green Point Common, Cidade do Cabo, 2013, prova cromogénea.

 

Sobre a série “Ruanda e África do Sul”, 2014-2016 

“1994 foi igualmente o ano do genocídio no Ruanda, um evento que me abalou profundamente. Dez anos mais tarde viria a fotografar de forma exaustiva o seu rescaldo e a pensar o seu legado.(...) Aparentemente livre do passado do Ruanda e da África do Sul, a relação delas (das crianças) com o mundo afigura-se-me reconfortante. Mas ao mesmo tempo estou ciente da natureza sugestionável das suas mentes”.

 

Sobre a série “Erro Permanente”, Gana, 2009-2010

“Este ensaio fotográfico foi realizado num triângulo de terra densamente povoado em Acra, a capital do Gana. Agbogbloshie é a segunda maior zona de processamento de resíduos electrónicos da África Ocidental. (...) Enviados sob o pretexto de serem reutilizáveis, os bens electrónicos que não se vendem vão parar a Agbogbloshie – área apelidada de “Sodoma e Gomorra” pelos habitantes locais.

 

É aqui que os circuitos, transístores, condensadores e semicondutores são reduzidos aos seus metais-base. Tem de se admitir que há algo magnificamente alquímico naquilo que acontece lá: estes dispositivos que são o pináculo dos feitos culturais são transformados novamente nos seus elementos-base. (...) Penso que se adeque dizer que Agbogbloshie é um monumento sujo e sombrio à era digital. (...) Estando num ambiente como este, no qual os desequilíbrios geopolíticos são explorados para com efeito despejar sucata em países pobres, é difícil não tomar uma decisão política.”

 

Sobre a série “Conversas em Torno de uma Sopa de Massa”, China, 2015-2016

“Estas imagens foram fotografadas em Pequim ao longo de um mês de residência. (...) O projeto inclui uma variedade de naturezas-mortas. Há algo melancólico nelas, parcialmente porque sugerem o género holandês do seculo XVII da pintura vanitas.” 

 

Sobre a série “Laços de Família”, África do Sul, 2006-2013

“A África do Sul é um local problemático, ferido, esquizofrénico e fragmentado. É uma sociedade muito violenta, na qual ainda estão marcadas as cicatrizes do colonialismo e do apartheid. (...) Como é que se vive numa sociedade assim? Como é que se assume a responsabilidade pela história, e até que ponto é que se deve tentar fazê-lo?”

 

Sobre a série “Nollywood”, Nigéria, 2008-2009

Enquanto trabalhava na série Os Domadores de Hienas e Outros, apercebi-me da singular indústria cinematográfica nigeriana, (...) a terceira maior do mundo, a seguir à dos Estados Unidos e à da Índia. Não era tanto a vertente económica relacionada com o lançamento de entre quinhentos a mil filmes por ano que me interessava. Sobretudo interessavam-me as questões culturais codificadas naquelas produções, realizadas por produtores locais e destinadas às audiências locais.”

 

Exposição de Pieter Hugo

“Between the Devil and the Deep Blue Sea – Entre a Espada e a Palavra”

Entre 5 de julho e 7 de outubro de 2018

Museu Coleção Berardo

Praça do Império 1449-003 Lisboa

 

 

 

Mais info aqui.

 

Imagens cedidas pela instituição, ©Pieter Hugo; Priska Pasquer, Cologne; Stevenson, Cape Town and Joahannesburg; Yossi Milo, New York