Uma exposição nunca lida, perdão, vista
A Exposição “Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida” traz exemplares únicos, raros e preciosos do Convento da Arrábida, e inaugura já hoje.
A preservação do património cultural é uma das meritórias missões da Fundação Oriente e, desde 1990, estende esta proteção ao Convento da Arrábida e respetivo acervo, depois de os ter adquirido a um privado. Mas sobre esta história, que bem merece um artigo só para si, falaremos depois.
À esquerda, Missal Romano, editado em Veneza, em 1754, usado na missa de rito tridentino, para leituras e orações eucarísticas, e publicado, imagine-se, entre 1570 e 1962; à direita, um Index Librorium Prohibitorum, uma lista de livros proibidos pela Igreja, sob a autoridade do Papa Pio IV, primeira edição em Colónia, 1610.
A exposição “Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida” inaugura pelas 18h30 no Museu do Oriente, em Alcântara, e a par de esculturas religiosas e alfaias litúrgicas, apresenta uma seleção de 36 obras, datadas de 1507 a 1860, que refletem não só o vasto horizonte temporal mas também a diversidade de saberes contido na Livraria do Convento. Entre textos de referência de uma biblioteca conventual franciscana como o Tratado de oração e devoção de S. Pedro de Alcântara, de 1739, ou os escritos de S. Boaventura (1609), encontram-se títulos mais inesperados e inéditos em Portugal, como a recolha de Anders Retzius sobre botânica, de 1789, ou a História da China, de Martino Martini (1658).
À esquerda, um dos escritos de S. Boaventura, em 1609, e à direita, a História da China, de Martino Martini, em 1658,
Destaque especial para exemplares únicos como uma cópia inteiramente manuscrita do Tratado de quiromancia, de Inácio Vieira (séc. XVIII), com um desdobrável ilustrado dos signos do zodíaco ou o Jardim spiritual, de Frei Pedro de Santo António (Lisboa, 1632). Este último, para além de ser uma obra fundamental do pensamento franciscano, tem a particularidade de ser dedicado a Nossa Senhora da Arrábida, que surge representada numa gravura em posição sentada e coroada por um sol raiado, uma iconografia raríssima.
O desdobrável do Tratado de Quiromancia, representando os signos do zodíaco, por Inácio Vieira, no século XVIII.
Com esta exposição, a Fundação Oriente dá a conhecer parte do valioso património bibliográfico de que é detentora, num convite à sua descoberta por aficionados do livro e da leitura. Compreendendo obras do início do século XVI até ao século XX, a Livraria do Convento da Arrábida era uma verdadeira biblioteca de estudo e aprofundamento de conhecimentos transdisciplinares, como demonstram as marcas de uso e anotações manuscritas dos seus livros, bem como a existência de livros proibidos, com marcas de censura como cortes de páginas e rasurados.
À esquerda, do Jardim spiritual, de Frei Pedro de Santo António, 1632, a gravura de Nossa Senhora da Arrábida (que faz também a abertura deste artigo), coroada por um sol raiado, uma iconografia raríssima. À direita, um exemplar de um fólio de 1685 rasurado pela censura.
Nela coexistiam obras dos santos padres, de teologia dogmática e moral, de filósofos e historiadores gregos e latinos, místicos medievais, humanistas nacionais e estrangeiros, com textos de áreas científicas, de história militar e botânica.
Composto por 2865 volumes, o acervo da Livraria do Convento da Arrábida permaneceu desconhecido do grande público até ao presente. Encontra-se agora inventariado na íntegra no catálogo online do Centro de Documentação António Alçada Baptista.
Exposição “Olhares sobre a Livraria do Convento da Arrábida”
Inauguração |26 Julho | 18.30
Até 28 Outubro
Horário: terça-feira a domingo, 10.00-18.0
(à sexta-feira o horário prolonga-se até às 22.00, com entrada gratuita a partir das 18h009
Preço: 6 €
Fotos Fundação Oriente / Nuno Vieira
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