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Conheça a Bertrand Chiado, a livraria mais antiga do mundo

Entrevista Bertrand Chiado
Par Inês ALMEIDA Il y a 7 ans
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Entrevistas

A Bertrand Chiado é uma livraria com 285 anos de história e muitas histórias para contar

 

Fomos conhecer a histórica livraria Bertrand, do Chiado, e falámos com João Romero e Ana Gomes.

 

Falem-me um bocadinho da história da Bertrand.

 

Ana: Já estou na empresa há uns anos, por isso posso dizer que faço parte da história da livraria mais antiga do mundo. A Bertrand, a livraria mais antiga em funcionamento, tem, desde 2011, o objetivo de mostrar a sua história. Além disso, queremos mostrar aos nossos clientes a importância deste espaço, não só numa perspetiva comercial, mas a sua importância ao longo destes quase três séculos de existência. Nós queremos dar aos nossos clientes uma experiência. Tudo o que estamos a construir agora, e nos últimos anos, é muito focado no nosso cliente e em mostrar-lhe como é que pode sair da livraria com uma experiência Bertrand. Não só adquire o que pretende, um livro, um postal, um outro artigo para oferecer, como também fica a conhecer um bocadinho da nossa história. Foi por isso que temos estado a dinamizar tanto os nossos espaços e temos estado a mostrar isso aos nossos clientes. O projeto do Café Chiado, que teve início em Maio, é exemplo disso. Este veio refletir a nossa forma de apresentar, através do passado, a nossa intenção de presente e mesmo do futuro.

 

João: E sempre com a presença dos livros. O conceito prove os nossos livros é precisamente isso. Ou seja, nós temos aqui no café receitas que são baseadas em livros que temos à venda na livraria.

 

 

Bertrand Chiado

 

 

O Café Chiado acaba por ser um prolongamento da experiência literária do cliente, é isso?

 

Ana: Sim, queremos que o cliente que venha ao café tenha uma experiência. Que conheça um bocadinho da história da sala, que é a sala Fernando Pessoa, onde temos não só alguns exemplos de algumas frases do autor, como também temos uma biblioteca que permite que o cliente não esteja só a consumir mas também a folhear livros. Queremos que o cliente conheça não só a obra de Fernando Pessoa, como os pratos que serviram de base para o que está a comer. Imaginamos, estou a comer esta salada e vejo na ementa literária que a sua receita está no livro X. É engraçada esta relação entre os livros e a comida. É satisfazer o intelecto e a barriga simultaneamente. Além disso, também quisemos enaltecer neste espaço – moderno – um bocadinho da nossa história. Para isso criámos capas, réplicas dos nossos almanaques, que eram feitos por nós, onde vinham certas curiosidades e passatempos. Começámos a fazê-los no fim do século XIX, desde 1899. Parámos uns anos e depois em 2011 voltámos a fazer a reedição. Quisemos manter a estrutura dele. Temos clientes nossos que fizeram a coleção e que quando nós agora voltámos quiseram continuar a fazer essa mesma coleção. Posso dizer que estes almanaques não são apenas valorizados pelo cliente português, como também pelo cliente estrangeiro. Neste espaço também fazemos algumas iniciativas culturais, como os clubes de leitura, cursos, sessões de autógrafos e até provas de vinhos. Nós temos também um papel cultural, não queremos ser apenas uma livraria que vende livros. Temos esta missão, de mostrar às pessoas como se pode aprender mais.

 

 

Bertrand Chiado

 

 

Qual foi o trajeto da Bertrand, dos primórdios da sua existência até aos dias hoje?

 

Ana: Voltando à origem da Bertrand. A existência da Bertrand começa em 1732. “Só” temos 285 anos [graceja], e queremos manter-nos por outros 285. Começámos com o Pedro Fauré, um francês. Na altura não existia o conceito de livraria, mas de tipografia. O livro em Portugal era ouro. Então Pedro Fauré, com esta ideia, veio para Portugal e abriu o seu primeiro negócio cá. Não nesta morada, mas na Rua Direita do Loreto com a Rua do Norte. Aí abrimos a nossa primeira loja e surgiu a Bertrand. Não com o nome de Bertrand, que só apareceu com um dos sócios de Pedro Fauré que ficou com a sociedade e que lhe deu o nome.

 

João: Para contextualizar, eu quando li esta frase achei piada. Porque nós às vezes falamos de 285 anos e não temos bem noção do que isso representa. E houve uma frase que eu li algures e que me chamou a atenção. Esta livraria tem 285 anos de história e muitas histórias para contar. Sobreviveu a um terramoto, a uma guerra civil, passaram por nós nove reis, um regicídio, 16 presidentes da república, 49 primeiros-ministros, 3 repúblicas, 6 golpes de estado, duas guerras mundiais, a construção e a queda do muro de Berlim, a unificação da Europa, o escudo e agora o euro.

 

Ana: Viemos para esta localização em 1773, 18 anos depois do terramoto. E foi a partir daqui que temos estado desde então.

 

João: Mas o Guiness quando elegeu esta livraria como a mais antiga do mundo, o que tomou em consideração foi que, independentemente da localização, a Bertrand – hoje Bertrand, antes com outro nome – apesar do terramoto e apesar de ter mudado de instalações, nunca cessou o seu funcionamento.

 

 

Bertrand Chiado

 

 

Como é a livraria hoje?

 

Ana: Porque é que nós fizemos esta contextualização? Porque é importante saber que a nossa livraria, que é composta por seis salas (a sétima é o café), toda ela tem história. Cada sala tem um padrinho, o nome de um autor associado. Estes autores não só fizeram parte da nossa história literária, como da história da própria livraria. Quando abrimos na atual morada, após o terramoto, estávamos em pleno auge cultural. No séc. XVIII, estávamos a ver o que se passava na Europa, estávamos a ter muitas ideias políticas e de mudança. Então começámos a ter neste espaço alguns autores, como Alexandre Herculano e Antero de Quental. Aliás, diz-se que muitas das conferências de casino foram tratadas aqui. O próprio Eça reunia-se aqui para debater assuntos políticos e culturais. Eram uma espécie de tertúlias que se realizavam neste espaço. Que é o que pretendemos fazer aqui. Temos todas estas salas, que carregam essa mesma história. Por exemplo, na sala 1, a sala do Aquilino Ribeiro, temos um espaço que é o cantinho do Aquilino, que era onde ele se sentava a discutir com os amigos, a ler. Era o espaço dele. Ele efectivamente passava aqui muito tempo.

 

João: Tanto a administração da Bertrand, como os muitos funcionários da Bertrand do Chiado, fizeram questão de eles próprios escreverem as condolências e publicarem nos jornais diários da altura. Isso mostra um bocadinho a ligação que nós tínhamos com ele. E daí o Aquilino Ribeiro ser a sala 1.

 

Ana: Na nossa sala 2 é a nossa sala do José Saramago. Já é um autor contemporâneo, mas também é um autor que fez parte da história portuguesa, da história da literatura portuguesa. É o nosso Nobel. Também teríamos sempre de fazer menção a ele. A terceira sala é do Eça de Queiroz, que também vinha à livraria muitas vezes. Na sala 4 temos Almada Negreiros, outra presença também assídua no nosso espaço. Também vinha cá com muita frequência. Na outra sala, a 5, temos o Alexandre Herculano, que também é uma personagem muito importante. Todas as quintas-feiras vinha à Bertrand participar nas tertúlias. Depois a sexta sala, que é a sala infantil, é a de Sophia de Mello Breyner. Nas salas temos não só os livros desses autores em destaque, como a sua biografia, com a história de cada um dos padrinhos. Contamos isso aos nossos clientes. Os pés deles estiveram neste espaço e nós gostamos muito de contar isso. Às vezes vêm cá alguns grupos para nós lhes fazermos uma apresentação da livraria. Se algum grupo estiver interessado, é só falar connosco que podemos agendar essa visita. Ainda não temos nada organizado a nível turístico, mas estamos a pensar nisso. Queremos mostrar aos nossos clientes nacionais, e aos turistas, a história da Bertrand de forma organizada.

 

 

Bertrand Chiado

 

 

Que histórias encerram estas paredes?

 

João: Há histórias da livraria deliciosas. Por exemplo, a Ana referiu que o café era um armazém. Um dos nossos gerentes, José Fontana, no século XIX, faleceu aqui. Suicidou-se. E uma das histórias que se conta, nesta livraria enorme, é que muitas vezes há livros a cair. E os livreiros desta casa dizem que é ele, que anda de um lado para o outro, e que os deixa cair. Isto é visto de forma positiva, acaba por ser uma private joke entre nós.

 

 

Café Chiado

Café Chiado

 

 

Que levam da livraria os clientes que a visitam?

 

Ana: Quando os clientes compram aqui um livro, levam um carimbo que diz que o compraram na livraria mais antiga em funcionamento. O cliente também tem a possibilidade de fazer uma compra online daqui. Também estamos a apostar muito nisso, no serviço multicanal. Não só queremos mostrar ao nosso cliente português e estrangeiro que temos toda uma história, como também queremos provocar uma experiência que perdure. Agora por exemplo, temos uma agenda cultural. Ou seja, um conjunto de iniciativas que decorre todas as semanas. E estamos a ter agradáveis surpresas com clientes estrangeiros, que aderem muito às iniciativas. Nós queremos que todos que venham cá tenham uma experiência, não só comprar um livro. Pode-se comprar um livro em qualquer lado, aqui é diferente.

 

 

Bertrand Chiado

Endereço: Tv. Carmo 1C, 1200-049 Lisboa

Horário: 09h00 às 22h00 (todos os dias)

Telefone: (+351) 21 347 6122