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Josefa de Óbidos, os Meninos-Jesus + bonitos do mundo

Josefa d'Óbidos
Par JoÁ£o GALVÁƑO Il y a 7 ans
Catégories :
Cultura

Se eu fosse rico, oferecia-me no Natal um Menino-Jesus de Josefa. Como não sou, vou comprar um pé-de-cabra e arranjar coragem

 

Josefa de Óbidos foi a única mulher pintora profissional em Portugal no século XVII. E depois de ter sido, desde há pouco, reconhecida como o segundo nome português com valor suficiente para integrar as paredes do Museu do Louvre, caiu definitiva mas tardiamente no goto a todos os modanti.

Adoração dos Pastores, 1669, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

 

Foi durante séculos apressada e tão tão erradamente carimbada como uma saloia savant. Desde seiscentos que Josefa estava ali, tão especial, tão artística, tão única e era, até há bem pouco tempo, apenas apreciada oficialmente ou por poucos académicos com consciência e bom gosto.

Natureza Morta com Doces e Flores, 1676, Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp, Santarém

 

Eram demasiados os santinhos, os meninos-jesus de batina bordada, e as mesas onde doces e bolinhos posavam sobre papéis amorosamente recortados, como os naperons com que as nossas mães e avós adornavam as televisões no século passado. Ao primeiro e descuidado olhar tudo aquilo era apenas fofinho. Mas ao segundo e ao terceiro olhares salta aos olhos a maneira de Josefa, herdada do pai, o único outro artista português no Louvre (há um Sequeira nas reservas, por isso não conta); Baltazar Gomes Figueira era um caravaggista de gosto espanhol, do claro/escuro barroco mas exacerbado com o pathos católico de Zurbaran, e Josefa bebeu com certeza dali. E foi à sua Maneira, no tempo relevante do Maneirismo, que Josefa pintou poucas, e por isso ainda mais desejáveis, belas obras, sempre amorosas e fofas é certo, mas únicas e insubstituíveis telas do panorama de sempre da Arte Europeia.

Agnus Dei, entre 1660 e 1670, Museu de Évora

 

Para este estúpido e ingrato esquecimento contribuiu largamente o facto de Josefa de Óbidos ser mulher e estar longe dos centros de decisão. Na altura não havia telefone e demorava-se uma semana, de mula, até chegar a Lisboa. Contra tudo isto, sendo mulher, chefe e cabeça de uma família, a Josefa sobrava muito pouco tempo para pintar. Mas fê-lo brilhantemente, ao ponto de ser um dois únicos nomes portugueses , juntamente com o pai, expostos no venerável Louvre.

Maria Madalena Confortada Pelos Anjos, 1679, desde 2015 no Museu do Louvre

 

Apesar de artista profissional, ou seja, ganhar dinheiro com a sua pintura, Josefa era também cuidadora dos seus ascendentes; tratava da casa, da família e da quinta, geria alguns caseiros e gostava de dar nomes à suas vacas. Quase que certamente os bolos e doces que retratava teriam sido alguns cozinhados por si, e as cerejas e ginjas de alguns quadros tê-las-ia apanhado no seu quintal. Há mais Maneirista que isto?

São João Baptista Menino, entre 1670 e 1675, coleção particular

 

Para ver Josefa de Óbidos o melhor sítio é na sua Óbidos natal, onde a Matriz tem as suas telas como parte integrante e realizada de propósito para o efeito. No Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, está uma Maria Madalena executada de forma intimista mas brilhante, iluminada apenas por um lume de vela e de resto negro de breu, tão caravaggista e dramático.... No Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, podem ser admiradas algumas das suas telas e na Matriz de Cascais está uma Sagrada Família e um Menino Jesus Salvador do Mundo, entre outras. O Museu de Évora tem exposto um Agnus Dei, tema muito à moda no tempo da artista, e uma natureza morta de doces e flores, tão viva afinal.

 

Este texto foi revisto por Maria João Santos, mestre em Estudos Sobre as Mulheres pela Universidade Aberta com a tese “As Mulheres nas Pinturas de Josefa de Ayala e Artemisia Gentileschi: A Nudez, o Vestuário e os Tecidos como Instrumentos da Sensualidade Barroca”.