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Sopa de Pedra: mágico caldo musical

Sopa de Pedra
Par JoÁ£o GALVÁƑO Il y a 7 ans

São 10 raparigas que resgatam cantigas do passado. Com as Sopa de Pedra ninguém consegue ficar com os pés quietos

 

Descobria-as por acaso, quando escrevia para aqui um artigo sobre a mais recente Festa de Outono em Serralves: as Sopa de Pedra eram um dos grupos convidados e eu nunca as tinha ouvido. Procurei, ouvi e tive as Sopa de Pedra em loop durante uma semana.

 

É sempre comovente ver gente nova com orgulho no passado e na tradição nacionais. E é sempre bom saber mais sobre estas pessoas com as quais, pela música e pelo encontro de simpatias, se criam laços, mesmo que nunca tenhamos falado com elas.

 

Eu falei, e trago-lhe aqui a conversa toda. Clique no link abaixo, é uma das minhas favoritas de entre as cantigas das Sopa de Pedra, e ouça-as enquanto as lê.

Sopa de Pedra cantam "Ró da Graça", canção dos Capagrilos, video por Sucata do Eden

 

Desde quando existe o projeto?

A história de Sopa de Pedra começou antes deste grupo se constituir enquanto banda. Todas nós temos um passado musical com origens na infância, por cantarmos em coros, em casa com os pais, na escola, e há inclusive entre vários elementos da banda um grau de parentesco direto: há um par de irmãs e um trio de primas. Em conjunto com amigas de infância, colegas de casa nos tempos da faculdade, o grupo foi-se formando e mantendo ao longo do tempo, sempre em redor da atividade de cantar e partilhar músicas para cantarmos em conjunto.

 

Como e porquê surgiu a ideia?

A ideia mais concreta de formar um grupo musical surgiu no verão de 2011 como resposta a um desafio por parte de uma de nós de levarmos o nosso grupo de amigas - que ainda era apenas isso - a um festival de música e dança étnica na Eslovénia, onde apresentaríamos um conjunto de atividades enraizadas nas tradições portuguesas. Entre as atividades, o cantar polifónico era o que nós tínhamos de mais consistente e explorado. Esta meta apressou assim a definição de um reportório para concerto e também de um "nome" para a banda. Surgiu por parte de um grupinho de nós o nome de "Sopa de Pedra" por a história popular ser uma analogia para a prática musical com que nos identificámos para o desafio: associar a um cantar simples uma construção à sua volta, juntando à pedra uma voz, uma melodia, um arranjo e fazer da "sopa" algo que servisse para saciar os ouvidos de muita gente, sem uma receita estanque, mas sim nova a cada prova.

 

A idade do mais novo e do mais velho dos 10 elementos? 

A mais nova de nós tem 25 anos e a mais velha 31.

 

Onde buscam repertório? 

Atualmente o reportório da banda vem de recolhas como a Antologia da música regional portuguesa, de Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti, da série da RTP Povo que canta, também de Giacometti em conjunto com Alfredo Tropa, das recolhas de Domingos Morais, dos Almanaque, ou de cantautores portugueses como os que interpretamos no disco (Zeca Afonso, Amélia Muge, GAC, João Lóio) entre tantos outros. Algumas das músicas que estamos atualmente a trabalhar chegaram-nos de ouvido, outras são composições originais. 

 

O grupo tem formação musical ou são amadoras (no sentido de amar o que se faz)? 

Todos os elementos tiveram na infância formação musical e mantêm hoje em dia alguma atividade musical, seja no grupo das Sopa de Pedra, seja fora dele. Algumas mantêm projetos distintos com outras bandas, outras aliam o seu percurso ao ensino de música em escolas ou aplicado a projetos comunitários, outras estão ainda a investir na sua formação académica e junto de profissionais específicos, sendo que todas mantêm ativamente a prática musical no dia-a-dia.

 

Qual é sensação de cantar tão antigo numa altura em que tudo nos pede sempre para ser tão moderno?

Estes cantares antigos que interpretamos vêm de um tempo em que as narrativas e as interpretações dadas pelas cantadeiras ou pelos homens eram muito cruas e despojadas. Nesse universo, a função e o fenómeno da música são claros e focados. A carga de emancipação é notória, e a atividade de cantar representava um ânimo ou um derradeiro fôlego de expressividade as pessoas. Ou em épocas festivas e de folia, ou por afirmar nas letras e nas interpretações a resistência contra as adversidades da sorte, a luta de cada um. A música é aliada das questões mais básicas da vida, como seja inclusive o legado que poderia ser deixado aos filhos da parte de quem nada tem. Embora os contornos da vida de outros tempos não sejam os de hoje em dia, as questões fundamentais das pessoas são as mesmas. O poder de nos auto-superarmos é algo que nos toca, com que nos identificamos e que nos define sempre.

 

Quantos discos têm editados? 

“Ao Longe Já Se Ouvia” é o nosso primeiro disco.

 

Como funcionam? Como escolhem temas? Quem faz o arranjo e a produção?

Os arranjos e a produção musical são feitos exclusivamente pelos 10 elementos da banda. Geralmente uma de nós propõe um cantar ao grupo, e dele surge uma voz ou contra-melodia, alguém sugere alterar a harmonia e outro alguém junta-lhe a percussão, até que se vai construindo um arranjo. Algumas músicas são mais exploradas e trabalhadas por uma ou outra pessoa, mas a sonoridade final é resultado de um trabalho conjunto, onde cada música passa por um processo íntimo e geralmente duradouro. E foi isso o que acabou por dar "sabor" a cada receita do disco, cada arranjo ter sido uma longa viagem de encontros e de descobertas.

 

 

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