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Hotel Palácio Estoril, o nome diz tudo

Hotel Palácio Estoril
Par JoÁ£o GALVÁƑO Il y a 7 ans
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Hotelaria

Mais que um hotel, o Palácio é o Hotel do Estoril por excelência. Desde sempre, graças a uma paz morna que ainda hoje existe só quase aqui

 

E estes 87 anos estão cheios de histórias deliciosas, quase de conto mas verdadeiras. Sabia que o James Bond original, o de Ian Fleming, foi escrito aqui? Porque o escritor perseguia aqui e à época um dito espião de nome assustadoramente russo?

Ter aberto em 1930, durante o entre guerras, e num país periférico a meio caminho das Américas, fez do Hotel Palácio Estoril um cenário do Casablanca, ou do Casino Royale de Bond, mas verdadeiros, onde a vida era realmente como uma fita.

Esta entrevista foi apenas possível porque Francisco Corrêa de Barros, o Diretor,  nos disponibilizou a hora de almoço – e o almoço, excelente! – para nos contar na primeira pessoa o que é este sítio, mais que sítio, este cenário de filme de espiões, de realeza e de absoluto chique, tudo aquilo que invejamos nos filmes.

 

“Isto era na altura a Quinta do Viana, era uma mata de cedros e pinheiros, estes cedros que vemos daqui, do lado de lá da piscina, ainda fazem parte da mata original. E havia também um balneário termal, que ainda existe.

Fausto Figueiredo, em novo, ia para Biarritz passar férias - era a estação de veraneio mais perto, em França, que estava na moda - e sempre teve o sonho de fazer aqui qualquer coisa parecida com as estações francesas. Cascais era, enfim, a vila da corte e a família real vinha cá passar as férias de setembro e outubro.

O Fausto Figueiredo também trabalhava nos caminhos de ferro, e a ideia dele era trazer as pessoas, no fim do verão, usando o Sud Express. O Estoril chegou a ser o grande destino de inverno, as grandes ocupações do Hotel Palácio, podemos vê-las nos registos que ainda existem, são já depois do verão, os turistas vinham atrás do sol.

Fausto chamou o grande arquiteto Henry Martinet para projetar o hotel que tinha já na cabeça: para além do Palácio, as avenidas que compõe a grande praça atual do Estoril, as arcadas em meia lua que as rematam, e os jardins, foi tudo gizado por Martinet, à época. Mesmo o Casino original estava situado no mesmo sítio designado por ele.”

 

E as Termas?

Os níveis freáticos foram baixando com o tempo e foram demolidas, e construídas de novo em estilo neoárabe, e também estas acabaram por ser substituídas por um hotel termal, o Hotel do Parque e mesmo este acabou por fechar, quando os tratamentos termais deixaram de ser cofinanciados e foram perdendo frequência. Mas o Hotel Palácio, apesar de alguns altos e baixos, sempre resistiu.

E continua igual?

Igual. Nos anos sessenta acrescentaram-se estas duas alas laterais, a piscina, e foram modificados o quarto e o quinto andar, pelo arquiteto Alberto Cruz. Fechou-se a entrada principal, que dava para a avenida, para que o relvado pudesse acolher a piscina, e abriu-se nas traseiras, onde está ainda hoje.

 

Mas um hotel não vive só de boa arquitetura. E a decoração?

Nos anos 60, já com o Alberto Cruz, o Lucien Donnat começou a mexer-lhe. Fez o grande salão Atlântico, as alas laterais de modo a albergar a nova piscina, e o espaço relvado e ajardinado que a envolvem. Tudo isto que vê se deve a 50 anos de reinado de Donnat aqui. Durante todo este tempo nada se fazia sem o consultar, sem o traço dele. Desenhou tudo das áreas comuns, tudo desde o aplique de parede, o corrimão, as cadeiras de ferro do exterior, as ânforas, até as guardas listadas das alas da década de sessenta, que são mesmo uma marca de água do seu estilo, aquela disposição, aquelas cores.

E desde que o Lucien nos deixou limitamo-nos a reparar ou substituir por iguais parâmetros o seu desenho original. Não há até hoje rupturas com o ideal que Lucien Donnat pensou para aqui.

E de repente o hotel mudou de mãos?

Sim, em meados de 80 a família Figueiredo, já na terceira geração desde a construção do Hotel, resolve vendê-lo e é comprado por Jamsen Al Baker, que continua até hoje como atual proprietário. Era já um investidor na hotelaria em Portugal, e no Estoril comprou todo o complexo; para além do Palácio, também o Golfe e as Termas atuais. E sintomático de que a qualidade deste hotel é fora de série é que a família proprietária vive aqui, no Palácio Estoril. Ao contrário daquilo que se poderia pensar, ter o dono a viver no espaço é um descanso para quem lá trabalha: é ótimo, sabe as dificuldades que se sentem, os investimentos que têm que ser feitos.

 

O facto de em pouquíssimos anos a oferta de qualidade da zona ter triplicado prejudicou o Hotel Palácio?

Não, a concorrência de qualidade é muito bem vinda, eleva o local. Apesar dela, no ano passado o Hotel Palácio do Estoril teve o seu melhor verão de sempre, em relação ao número de ocupações.

 

E a história do 007? Como acontece?

O sitio que inspirou o Ian Fleming a escrever o Casino Royale, o primeiro livro, foi aqui, em 1941, temos fotos do registo dele. O Ian Fleming pertencia aos serviços secretos ingleses e nos mesmos registos temos o apontamento de ingresso de um Popov, um agente duplo no qual ele se inspirou para escrever a saga. O Popov era muito bem parecido, andava sempre com umas beldades, e fazia vida entre o casino o hotel. Mais tarde o Fleming reconheceu que este tinha sido o homem que viveria depois nos romances como James Bond.

Houve mesmo um 007 filmado aqui no hotel, o “On Her Majesty Secret Service”, rodado aqui em 1968, em que a primeira cena é filmada na praia do Guincho. E num dos planos aparece um jovem paquete de 18 anos que cá trabalhava, chama-se José Diogo Vieira e hoje ainda cá está, com 67 anos e como subchefe de concierge.

Sendo uma ilha neutra num mundo em Guerras, a II e depois a Fria, que celebridades aqui ficavam?

A Indira Gandhi, na altura ainda Indira Nehru, esteve cá em 1950, 50 e poucos, a seguir à guerra. O que vinha cá uma miúda de 18 anos fazer aqui sozinha? Deve ter sido enviada pelo pai para falar com Salazar, como uma espécie de embaixada não-oficial, que não lhe deve ter ligado muito, pois logo a seguir, em 61, invadiram a Índia, a nossa Índia que era afinal a deles.

O Saint-Exupery também cá esteve, e chamava a isto, ao Estoril, um paraíso triste.

Durante a guerra houve um movimento alargado em que várias famílias reais europeias, exiladas, vieram para cá viver, para Sintra, Cascais e aqui para o Estoril, e fizeram deste hotel as suas salas de visitas. Faziam aqui as festas de debute, as de casamento, ou apenas festas, os amigos que vinham de fora ficavam aqui, e aqui se jantava ou almoçava e se fazia vida. As famílias reais espanhola, francesa, romena, italiana, búlgara, do Luxemburgo, não viviam aqui, mas era aqui que passavam o tempo. Há uma foto da época, da família real italiana em que estão todos na varanda, a dizer adeus ao povo, como se estivessem ainda no seu palácio em Itália.

Claro que vinham por ser o Hotel Palácio Estoril, mas o hotel ganhou também o tom que tem ainda graças ao facto realeza ter feito deste sítio a sua casa longe de casa, é uma relação simbiótica.

A relação do hotel com as Coroas não ficou no passado, continua ainda hoje, todas as Casas Reais continuam a usar este hotel. Há poucos anos foi aqui celebrado o Centenário da Federação Mundial de Vela, e lembro-me de ver aqui neste corredor ao lado o Rei da Noruega, o Rei da Grécia, A Princesa Ana de Inglaterra, o Príncipe Filipe da Dinamarca, todos juntos, aqui.

De Francisco Corrêa de Barros lembro-me bem, para além de toda esta bela história, dos botões de punho perfeitos, um nó chinês azul-claro a rematar o fato em príncipe-de-gales de fina risca lilás no meio do rapport. Se este hotel fosse meu, também o escolheria para meu Diretor.